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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Verás que um filho teu não foge à luta (Protesto pelo direito ao protesto)

Há alguns meses protestei contra o protesto. Disse que ir à rua tão somente contra aumento de passagens de ônibus era pouco; preferia reivindicar outras questões mais basais de nossa política e sociedade. Diante das movimentações ocorridas em São Paulo e no Rio de Janeiro, e do que se apresenta e se promete aqui no Recife, chamo meus parcos leitores ao bom-senso. 

Vamos refletir um pouco: reivindicamos direitos, questionamos um governo que se diz social, mas não dialoga com o povo, que o mantém domesticado e alienado à frente da TV vestindo camisa amarela. 

Estamos nas ruas, e o fazemos sem violência, mas recebemos em troca toda a sorte de agressões e humilhações aplicados por uma polícia arbitrária, truculenta, despreparada, covarde, que, sobretudo os batalhões de choque, reza uma cartilha, há muito mais de 40 anos, da total inobservância aos direitos humanos, aos cidadãos, a quem ela deveria servir.

Não deixaremos as ruas; nos organizaremos para engrossar o coro de reivindicações: não são só vinte centavos, não é só a demora do ônibus e sua superlotação, não é só a alta carga de impostos, não é só a corrupção, não é só o caos na saúde, não é só o desemprego, não é só a humilhação do professor, do motorista de ônibus, do trabalhador em suas mais variadas ocupações e com salários baixos, não é só por que o feijão, o livro e a cerveja estão pela hora da morte, não é só as construções faraônicas de estádios de futebol para um campeonato de futebol, onde a única coisa que interessa é causar boa impressão aos turistas e roubar uns milhões por fora. Trata-se de tudo isso e muito mais (o todo é maior do que a soma de suas partes). 

Estou contraditoriamente orgulhoso e envergonhado: o que me entristece e envergonha é ver as ações de bandidos fardados dignas de filmes sobre a Ditadura Civil-Militar dos anos 1970 ou dos excessos dos nazistas. Me entristece ainda mais acompanhar à ausência de posicionamento da nossa presidente (ela mesma que sofreu a inominável ira da repressão de outrora, por que não foi à rede nacional de televisão e rádio repudiar as ações das polícias?). O que me enaltece é saber que vamos lutar contra esse estado de coisas, exigindo sempre o impossível. 

Vamos para a rua no dia 20 de junho de 2013? Vamos levar bandeiras brasileiras, flores, cartazes, faixas e a Constituição para lembrar de nossos direitos de estar na rua, de exigir a nossa soberania, de lembrar que vivemos num Estado democrático, que os políticos são os nossos representantes, que a polícia deve, para além de garantir a propriedade privada, proteger os cidadãos, e que essa própria instituição de repressão (a polícia) é composta não por soldados, mas por pessoas, que também têm sido vítimas de um sistema selvagem. Vamos lembrar à todos a letra de nosso hino maior que chama a pátria de gentil e diz que seus filhos jamais fugirão da luta.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pensamentos Zezos


Eu, a tarde e a estrada
Harmonia, alegria e poesia
São as tônicas dessas linhas

As rimas não são raras?
O que importa é que a felicidade,
Esta tem sido minha companheira

Mesmo na segunda-feira
Nos amanheceres
Ou pelos sertões

A distância só aumenta a vontade de voltar
Sou eu assim; olhos no céu
A tarde se vai e as árvores passam rápido
Como rápido me transporto até você

"Se hoje não fosse essa estrada..."
Pondera meu corpo, que não tem as asas do meu pensamento
Que em um segundo me traz aquele sorriso,
Aquele abraço, aquilo tudo!

Cada reencontro é uma festa que faz o meu peito
Cada vez te quero mais
Te quero perto, te quero tão perto
Que às vezes temo confundir o que é você com o que sou eu

Mas esse medo não procede
Esqueceu? Já pulei
E esses pensamentos zezos são só pra lembrar
Que estou seguindo o meu instinto
E que o destino que ele aponta
É você

Ex-voto Monalisa


O céu, iluminado pelas cores dos fogos,
Em minha mente, paz e saúde para os meus
O reencontro com o meu norte…

Dezenas de horizontes depois,
Uma paz que há muito não contemplava.
Minha adolescência;
E, por fim, ela.

Pra começar, ela.
Pra beijar ela
Pra sorrir? Ela!
Pra sentir? Ela!

Ela, de quem, no meio de tanta gente, eu gostei de graça;
Ela que fez meus olhos se lançarem nos seus,
Ela que fez meu coração marcar novo compasso,
Ela que me trouxe de volta o sorriso e um menino que há muito não via.

Ela é Você,
Menina de olhos doces,
De gestos doces,
De sorriso fácil

Monalisa de minha parede
Monalisa, dona da minha cabeça,
Monalisa de olhos pintados
Zezinha linda de olhos puxados

Parafraseando o poeta,
Tome esses versos como um beijo
Os primeiros, entre muitos que virão.

Tome esses versos
Como um agradecimento,
Um ex-voto Monalisa…

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Protesto contra o protesto

Muito barulho por nada.
Todo ano é a mesma coisa.

Qual o ganho que a sociedade que sustenta a sociedade tem com isso?
O movimento estudantil, com saudade de uma época que não viveu
E só sabe o que foi de ouvir falar,
Acha que protestar contra o aumento das passagens de ônibus é ser politicamente ativo.

Essa forma de protesto, fechar um dos principais corredores de ônibus do Recife,
Angaria a antipatia da classe trabalhadora não-estudante, que,
Percebendo o transtorno causado em seu cotidiano,
Escolhe aceitar o que diz a mídia e achar que é uma ação de vândalos-baderneiros.

Na minha opinião, está tudo errado!

Galerinha pseudo-cara-pintada, acorda!
Pára de fazer do Movimento Estudantil trampolim para uma carreira política!
Quer ganhar muito e trabalhar pouco?
Faz concurso público!

Se vai protestar, esquece um pouco o preço do busão e
Questiona o preço do feijão, da carne, dos livros.
Vai ver o que seus vereadores estão confabulando, vai cobrar deles as suas promessas.
Vai ocupar a Assembleia, a Câmara, a casa do Governador.

Não pensa que o trabalhador é alienado, não.
E se realmente ele for, vai ensinar ele a entender o que você acha que sabe.
Pega a bicicleta, aproveita a geografia e deixa o VEM em casa;
De preferência em cima do Karl Marx que você diz que leu umas dez vezes...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Justa-raiva

O abismo entre o tenho e o quero só aumenta.
Diminui a minha paciência;
Para onde foram meus fins-de-tarde?

Vinte e poucos anos de gestação
Seguidas de complicações deixaram-me viúvo e órfão
Do fruto de minha Cruzada.
Errei por tempo e espaço em vão.

Horizontes se sucedem
Agora tenho paz, à noite.
E todo o resto?
Pra onde foi?

”Fugiu com a alegria do amanhecer!”
Esbofeteou-me a consciência,
Num surto de lucidez
E justa-raiva.

Sei onde encontrá-lo;
É logo ali o seu esconderijo,
Mas a porta está fechada à chave
Sei disso porque fui eu quem fechou.

Pode o vermelho desbotado, rasgado, torturado
Um dia ostentar-se rubro e imponente ainda uma vez?
Depende da química, me diz a lógica
Ou de quantas doses curti na festa de Cronos.

Vamos lá, tudo bem.
Eu só quero esquecer de tudo,
Mas a água do Lete está custando caro,
Então me resta ter pena de mim.
Black

Está tudo bem?
Desejo muito que esteja bem. 
Bem, ao menos um de nós precisa estar.

Desculpa esse meio no meio de uma tarde tão fria, tão cinza
Agora cai a chuva e pela janela já não vejo aqueles tons purpurios. 
Também não vejo como isso pode fazer bem a qualquer um de nós, 
Mas preciso comunicar -- Não era esse o verbo? 

Sei que um dia tudo serão apenas lembranças, 
Mas é que por mais que eu sorria
Encontre pupilas, 
Por mais que eu viva, ainda sinto-me uma lacuna.

Pinturas por fazer, esculturas em busca da forma,
Cinco vezes cinco horizontes girando em torno de um eu
A quem não fui apresentado ainda.

Tudo preto.
Fui eu que mudei ou foi o chão que pisei?
Teus passos quebraram algo aqui em algum lugar
Não sei onde e também não interessa.

Afinal, a alegria está aí -- é Natal? E daí?
Não tenho do que sorrir nem com quem dividir.
E meus pensamentos estão mudando muito rápido
Quantos cacos de vidro estão em meus pulmões?

Do escuro eu já te posso ver;
És fonte de luz, nunca deixastes de ser.
Iluminas um outro céu.

sábado, 1 de setembro de 2012

Ode à elegância


Saiu à francesa; sequer esperou a primavera.
Já fizera muitas primaveras nas vidas de todos aqueles que tiveram a honra e o privilégio de poder chamá-lo de mestre.
Homem iluminista, homem iluminado. Sua luz não se apagou. Ela vive, posto que partilhou-a com muitos, simplesmente com todos que ouviu e que o ouviram de volta.
Muito ficou, é verdade.
Estamos, porém, tristes porque ainda assim arde uma biblioteca.
Arde o peito daquele que pensava que a dor é provocada pela presença de algo ruim. Irrefutavelmente reconheço, pela segunda vez, que a dor é fruto da ausência de algo bom.

A última lição que nos deu foi de luta, de paixão, de prazer, de vida.
Seus olhos atentos e curiosos pelo conhecimento, seu interesse pela ciência e pela academia sem academicismos, e sua elegância, esta última no amplo sentido da palavra, jamais serão esquecidos.
Obrigado, Dênis Bernardes!