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sexta-feira, 18 de março de 2011

Pregões do pão-nosso-de-cada-dia

“Água!”
 “Maaacaxeiiira!”;
 “Pernambuco-Diário, Comééércio”
“Olha (Pi)poca, (pi)poca, (pi)poca…”

É assim que a vida ganham;
Os donos dessas vozes
No grito
Na raça
No centro
Na periferia

Anônimos, em uníssono,
Nos fazem relembrar
Pregões de outras épocas
O amolador de tesouras
A lã de barriguda pra travesseiro
(Que fazia medo aos meninos de oitenta anos)

Até a negra do mocotó e lombo
Parece que deu nome a uma ponte
Era negra de ganho?
Ganhou o quê?
Conquistou a alforria com seus quitutes?
Ou acabou embaixo da ponte engordando as carnes do caranguejos?

No Recife de antes
Narrado por Bandeira e Pena Filho
Lembrado por Mário Sette e Josué
Os atores e locutores da rua (dos prazeres e pecados, das bandas e revoluções)
Eram afamados, ilustres, esperados e temidos
A velocidade contemporânea os tornou mais um detalhe

As necessidades antigas e modernas os tornaram pouco criativos
Homogeneizando-os
Homens, mulheres, meninos
Por vezes, são vozes esvaziadas de significação
De poesia, beleza e ousadia
E hoje, o pão de cada dia faz as vezes de alforria





Um comentário:

  1. Vozes esvaziadas e, por vezes, embrutecidas, esvaziadas de sentido, desde o próprio ser que as enuncia...
    E o que fazer?
    Quem ou o que mudará esse rumo?

    Abraço fraterno.

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